A Arte religiosa hoje é blasfêmia...

25/01/2011 09:33

Essa frase é de Theodor W. Adorno no ensaio "Teses sobre religião e arte hoje", originalmente lançada em Kenion Review, volume 7, em 1947,sendo que a tradução que tenho é de Newton Ramos-de-Oliveira em Teoria Crítica, Estética e Educação (2001).

É um texto extremamente atual. Nesse ensaio de 1947, Adorno discorre sobre a unidade (perdida) entre arte e religião, e sobre alguns "papéis" de cada uma delas.

Sobre arte nos diz: "(...)a arte (...) sempre foi e é uma força do protesto humano contra a pressão das instituições dominantes, a religião e outras, e também reflete sua substância objetiva" (p20). Pensemos então: a arte tem um papel profético (em termos bíblicos)? Profético para levar todo um povo para fora dos caminhos da dominação e opressão, longe das inverdades alienantes proferidas? Uma arte que proporcione uma reflexão sobre o momento histórico, sobre os valores, sobre a visão. Uma arte que desestabilize o status quo. Uma arte que desconstrua. Uma arte que não se deixa ser inofensiva e muito menos impotente. Uma arte não virtual, mas verdadeira. "O que vem com aparencia de idealismo em alto grau pressupõe (...) a emasculação de todas as disputas atuantes, sejam religiosas, filosóficas ou artísticas. Todas se tornam (...) mutuamente recociliáveis, como 'bens culturais' aos quais ninguém mais toma a sério". (p23)

Assim, hoje, temos uma (pseudo)arte religiosa (ou gospel, para ficar na moda) em que reduziu-se toda sua identidade para aculturar-se dentro da identidade espiritual gospel. Já dizia naquele tempo "é como se a religião estivesse à venda. (...) Essa arte de consumidor é religião cinematográfica até mesmo antes que essa indústria dela tome posse". (p21) Essa é a arte dos best-sellers, Grammys, Troféus Talentos e DesTalentos, e etc... É religião vendida de forma abrupta e irracional.

É a religião dos cachês...

Quanto mais se vende, quanto mais famoso, mais ungido e abençoado é o artista gospel... independente do que ele prega ou das falácias que canta.

É a religião dos clichês...

Criatividade e técnica são postas de lado para uma arte pasteurizada e que siga o padrão do mercado...

É a religião que nada religa...

Fonte: Ogalileo